sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Oi, meu nome é Asperger.

Apresentação:
Olá. Essa é a primeira vez que escrevo aqui, então farei meu melhor. Sou uma adolescente em meus plenos 18 anos. Estou para entrar na universidade, namoro um rapaz que amo profundamente e que acredito que me ame com a mesma intensidade. Tenho um irmão mais velho, uma mãe, um pai e uma cadela de 8 anos. Como podem ver, minha vida não tem nada de especial. Sou apenas uma garota normal com desejos de uma garota normal (casar, ter filhos, um emprego bom e não criar rulgas -Como se fosse possível... Hehe-), a não ser pelo fato de que sofro de um transtorno chamado Síndrome de Asperger.

(O artigo abaixo foi copiado do blog "Eu, Autista?" http://euautista.blogspot.com/)

O que é?
A síndrome de Asperger ou o transtorno de Asperger ou ainda Desordem de Asperger é uma síndrome que está relacionado com o autismo, diferenciando-se deste por não comportar nenhum “atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem”.

Quais os "sintomas"?

* Interesses específicos ou preocupações com um tema em detrimento de outras actividades;

* Rituais ou comportamentos repetitivos;

* Peculiaridades na fala e na linguagem;

* Padrões de pensamento lógico/técnico extensivo (às vezes comparado com os traços de personalidade do personagem Spock de Jornada nas Estrelas);

* Comportamento socialmente e emocionalmente impróprio e problemas de interacção inter pessoal;

* Problemas com comunicação não-verbal;

* Transtornos motores, movimentos desajeitados e descoordenados.

Como saber se eu tenho?
Para saber se você é portador de SA, ou não, é bom ficar atento aos sinais clássicos.

1. Dificuldade em ler as mensagens sociais e emocionais dos olhares – portadores de SA geralmente não olham nos olhos, e quando olham, não os conseguem “ler”.

2. Interpretar literalmente – indivíduos com SA têm dificuldade em interpretar coloquialismos, ironia, gírias, sarcasmo e metáforas.

3. Ser considerado rude e ofensivo – propensos a um comportamento egocêntrico, os Aspergers não captam indiretas e sinais de alertas de que seu comportamento é inadequado à situação social.

4. Honestidade - portadores de Asperger são geralmente considerados “honestos demais” e têm dificuldade em enganar ou mentir, mesmo às custas de magoar alguém.

5. Percepção de erros sociais – à medida que os Aspergers amadurecem e se tornam cientes de sua “cegueira emocional”, começam a temer cometer novos erros no comportamento social, e a autocrítica em relação a isso pode crescer a ponto de se tornar numa fobia.

6. Paranóia – por causa da “cegueira emocional”, pessoas com SA têm problemas para distinguir a diferença entre as atitudes deliberadas ou casuais dos outros, o que por sua vez pode gerar uma paranóia.

7. Lidar com conflitos – ser incapaz de entender outros pontos de vista pode levar a inflexibilidade e a uma incapacidade de negociar soluções de conflitos. Uma vez que o conflito se resolva, o remorso pode não ser evidente.

8. Consciência de magoar os outros – uma falta de empatia em geral leva a comportamentos ofensivos ou insensíveis não-intencionais.

9. Consolar os outros – como carecem de intuição sobre os sentimentos alheios, pessoas com SA têm pouca noção sobre como consolar alguém.

10. Reconhecer sinais de enfado – a incapacidade de entender os interesses alheios pode levar Aspergers a serem bastante desatentos e geralmente não percebem quando o seu interlocutor está entediado ou desinteressado.

11. Introspecção e auto-consciência – os indivíduos com SA têm dificuldade de entender os seus próprios sentimentos ou o seu impacto nos sentimentos alheios.

12. Vestuário e higiene pessoal – pessoas com SA tendem a ser menos afectadas pela pressão dos semelhantes do que outras. Como resultado, geralmente fazem tudo da maneira que acham mais confortável, sem se importar com a opinião alheia. Isto é válido principalmente em relação à forma como se vestem e aos cuidados com a própria aparência.

13. Amor e rancor – como os Aspergers reagem mais pragmaticamente do que emocionalmente, as suas expressões de afecto e rancor são em geral curtas e fracas.

14. Compreensão de embaraço e passo em falso – apesar do fato de pessoas com SA terem compreensão intelectual de constrangimento e gafes, são incapazes de aplicar estes conceitos no nível emocional.

15. Lidar com críticas – pessoas com SA sentem-se forçosamente compelidas a corrigir erros, mesmo quando são cometidos por pessoas em posição de autoridade, como um professor ou um chefe. Por isto, podem parecer imprudentemente ofensivos.

15. Velocidade e qualidade do processamento das relações sociais – como respondem às interacções sociais com a razão e não com a intuição, os portadores de SA tendem a processar informações de relacionamento muito mais lentamente do que o normal, levando a pausas ou demoras desproporcionais e incómodas.

16. Exaustão – quando um indivíduo com SA começa a entender o processo de abstracção, precisa treinar um esforço deliberado e repetitivo para processar informações de outra maneira. Isto muito frequentemente leva a exaustão mental.

Existe tratamento? Cura?
Não existe um tratamento efetivo para SA. Existem correntes que acreditam em vários tipos de tratamentos (variando de tratamentos narutais a tratamentos medicamentosos).

(O artigo acima foi copiado do blog "Eu, Autista?" http://euautista.blogspot.com/)

Minha vida antes da Síndrome de Asperger:
Meu nome que irei adotar no meu blog será Voice. Tenho 18 anos. Estou para entrar na faculdade de Direito. Sempre fui uma menina desajeitada, chegando a quebrar e deslocar vários ossos e me ferir várias vezes (por isso hoje carrego várias cicatrizes). Sempre fui uma grande admiradora do Japão e sua cultura. Aprendi um pouco de japonês por conta própria, já que não tinha dinheiro nem a permissão de meus pais para freqüêntar as aulas. Aprendi origami sozinha também, chegando hoje a fazer vários origamis para presente e venda. Aprendi a desenhar mangá sozinha, já desenhei várias histórias em quadrinho que nunca tiveram um fim ou conhecimento dos outros (felizmente... heheh). Aprendi a cozinhar quase sozinha também (com uma ajuda significativa de minha mãe e a empregada de minha casa). Nunca fui a garota mais popular de minha escola. Para falar a verdade, eu sempre fui a garota menos popular de minha sala durante todo o ensino fundamental e médio. Cheguei a receber apelidos ofensivos e horrendos como: Mongolina (seria a "fêmea" do mongol, que na linguagem das crianças da minha época queria dizer idiota, retardado, doente mental, imbecil, lesado e coisas do gênero), Lesa, Pombona (seria a mesma coisa que mongolina, só que com uma intensidade maior), Malhada (seria uma pessoa ridícularizada, que todos riem da cara dela por ser ridícula, conhecida por todos como lesada) e outros piores. Sempre que estava para fazer uma nova amizade, aparecia uma das crianças "malvadas" e vinha falar para aquela pessoa não se aproximar de mim, pois eu era diferente, estranha, malhada, violenta. E assim eu passei sozinha 9 anos da minha vida.
Eu sempre achei que amizade deveria ser um relacionamento puro em que ambos os amigos poderiam confiar cegamente um no outro sem medo. Nisso, eu contava tudo sobre meus interesses e meus medos, meus desejos e aspirações para um grupo de garotas que estudavam na minha sala no ensino fundamental. Até a segunda série elas pareciam mesmo me compreender e ser sinceras, mas um belo dia descobri que elas riam de tudo que eu as confiava e contavam para todos na sala. Desde aquele dia fiquei com uma ferida em meu peito que até hoje não cicatrizou. Fui deixando para lá e pedindo para que não fizessem aquilo de novo. Tanto fazia eu pedir ou não para elas, elas espalhavam do mesmo jeito. Eu achava que quanto mais agradasse as pessoas, mais elas gostariam de mim. Engano. Um dia eu levei um monte de borrachas que meu pai trouxe dos EUA para mim e sai dando para meus colegas de classe. Na hora ficaram todos felizes e se aproximaram de mim. No minuto que minhas borrachas acabaram todos viraram as costas para mim. E eu fiquei sozinha novamente. Minha professora se virou para mim e disse "Bem feito! Todo mundo te trata mal! E quando você trás presente te dá atenção! Foi muito do bem feito para você nunca mais trazer nada para esses ingratos!". Passei minha infância sendo criticada por ter uma mãe presente que me deixava na sala de aula, por todos os dias levar uma flor diferente para minhas professoras e por ter todo dia um penteado em meu cabelo feito todo dia pela minha mãe. As outras meninas falavam "Eu teria vergonha se minha mãe me deixasse na sala!", "Você não tem mais idade para usar esses penteados ridículos de criança!", "Olha! A baba ovo da professora trouxe outra rosinha!". Comecei a ir sozinha para a sala, parei de usar os penteados e deixei de dar flores às professoras. Ninguém se aproximou de mim. Meu cabelo começou a crescer muito e eu foi cobrindo meu rosto. Como me achava feia não o colocava atrás das olheras para não mostrar minha cara de balão. Dinheiro nunca foi problema, mas pelo conforto comecei a reaproveitar os gigantes uniformes de meu irmão mais velho (que crescia feito um monstro). Meu corpo começou a criar aspecto de corpo de mulher bem mais cedo que as outras garotas, eu era a garota mais alta da sala. Quando cheguei na quinta série, com 11 anos, não tinha nenhum amigo e aparentava ter 17 anos. Foi a época mais difícil de minha vida. Eu comecei a me socializar com crianças mais novas que eu. Consegui alguns amigos mais velhos, mas eles eram mal intensionados, então minha mãe me proibiu de andar com eles. Apesar da proibição ainda me encontrei umas vezes escondidas. Até que descobri que eles falavam mal de mim pelas costas (até hoje não sei o porquê). Quando estava com 12 anos levei uma surra dos meus colegas por negar estar namorando um rapaz com problemas psicologicos cinco anos mais velho que eu. E fui chamada de bebêzona por chorar apos a surra. Desde aquele dia tenho dificuldades de chorar.
Na mesma época, eu assistia muita tv com meu irmão e nós riamos muito. Até que um dia ele gritou comigo "PARE DE RIR! EU QUERO OUVIR O DESENHO!". Desde aquele dia só rio silenciosamente. Com 13 anos conheci uma grande amiga minha até hoje El (Não colocarei o nome dela, assim como o de nenhuma outra pessoa, pois não pretendo expor ninguém, assim como me expôr). Conversamos muito, vimos interesses em comum e a ensinei tudo que sabia sobre o Japão e toda sua cultura. Pela primeira vez alguém me ouviu interessada sem virar o rosto ou mudar de assunto. Minha mãe sempre dizia que pessoas felizes e vitoriosas atraem mais amigos e eu queria manter aquela amizade para sempre. Então só mostrei meu lado otimista, alegre e feliz. Comentava rápidamente sobre problemas na escola, mas não queria que ela fizesse parte daquela realidade, pois, com ela, parecia que eu estava bem longe daquele mundo de exclusão e malicia, parecia que um novo universo se abria para mim. Mantivemos contato mesmo à distância (pela falta de tempo) e trocavamos cartas e presentes. Com 14 anos eu havia dado o meu primeiro beijo. Apesar de um pouco traumático, acho que não poderia ter sido com alguém diferente. O nome do garoto que beijei era An, ele hoje é um grande amigo meu. Ele se apaixonou por mim (pelo que fiquei sabendo) e eu não estava me sentindo da mesma forma. Então comprei um presente para ele e pedi para que ficassemos apenas amigos. Ele riu e me apresentou aos amigos dele. Dentre eles estava ELE, um rapaz alto, moreno, com as sobrancelhas unidas por pelos, alto, de cabelos ondulados e negros, olhos profundos e castanhos. A princípio me assustei com aquela figura tão diferente, na verdade, na época ele era meio estranho, possuía um olhar mal humorado, pés e mãos enormes e uma cabeça com o formato comparável ao avô do Arnold do desenho Hey Arnold. Eu já tinha uma queda por um garoto magricela do vôlei que não me dava bolas, mas não deixei de notar aquela figura tão estranha. Nos conhecemos e em pouquíssimo tempo ele se tornou meu melhor amigo. Eu tinha um histórico enorme de amores fracassados e com esse garoto do vôlei não foi diferente. Eu havia conseguido o numero dele, endereço, placa do carro... TUDO! E esse meu amigo gigante o VC tentou me ajudar a conquistá-lo. Mas tudo que recebi de resposta foi uma resposta que ele deu ao meu amigo quando ele lhe perguntou o que ele achava de mim. A resposta foi bem clara para mim "Ela é bonita, mas é muito lesa". Nesse dia eu fiquei triste, mas não queria desistir de mais um amor. Uns dias depois VC se declarou para mim, disse que queria ficar comigo. Eu disse que o queria apenas como amigo. Eu estava confusa, eu já gostava do garoto do vôlei. Eu amava VC, mas como amigo e não queria estragar isso. Houve uma festa na casa de um amigo do VC e ele me levou como acompanhante. Eu não havia ido a muitas festas em minha vida. Como não era popular, não freqüentava as festas da turma.Nessa festa todos ficaram espantados em me verem de roupas mais justas e com os cabelos fora do rosto (Eu cheguei a ser chamada de SAMARA - Personagem do filme de terror O Chamado- por ter aquela aparência). Na festa, fiquei sabendo que o garoto do vôlei estava namorando uma garota linda e popular. Naquela hora eu quis me enterrar, eu havia ido para aquela festa para tentar ter algo com ele e agora todas as minhas chances haviam se explodido e queria morrer. Quando deu uma certa hora VC disse que precisava ir, o único motivo pelo qual eu não ia embora era porque VC me animou e esteve comigo a festa inteira, mas quando ele foi eu fiquei mais um pouco. Eu queria olhar mais um pouco para o garoto do vôlei e me despedir de mais um amor. Depois que sai da festa eu percebi que não teve mais graça a festa sem o VC e que ele era muito bom para mim. Continuamos amigos e fomos levando a amizade. Eu havia esquecido o garoto do volêi e VC estava me conquistando mais a cada dia. Até que um dia falei para a irmã dele que achava que estava apaixonada por ele. Pouco depois ele me pediu em namoro e eu aceitei. Passamos 6 meses juntos. Ele tinha uns amigos que não nos queriam juntos pois eram apaixonados por mim e eu não gostava deles nem como amigos. Me senti incomodada e terminamos. Passei um longo tempo sozinha. Depois que terminamos VC não queria mais ser meu amigo e eu me escondia nos banheiros e em cima das árvores da escola. Me sentia mais só que nunca. Engordei muito nessa época e por causa da crítica de todos acabei ficando com anorexia e bulimia. Vomitava tudo que comia e tomava lactopurga. Com a morte de meu padrinho eu parei de tomar (não sei bem porque, mas parei). Namorei mais três garotos depois de VC, mas nenhum parecia girar bem da cabeça. Conheci Ma em uma festa, ela até hoje é uma grande amiga minha. Quando estava no segundo ano do ensino médio, mudei de escola. Lá foi a mesma história. Eu era excluída, mas é como dizem "Precisamos presenciar o inferno para conhecermos os anjos". Lá eu conheci Mi, bailarina, baixinha e super meiga. Estudamos juntas até nos formarmos no ano passado. Quando VC começou a namora a Pu ela me consolou e me ajudou. Eu fiz de tudo para separá-los. Eu ainda o amava, mas, apesar de ter me perdoado e ser meu amigo de novo, ele não me queria mais. Quando estavamos no último ano do ensino médio PU traiu VC e ele terminou com ela. Aproveitei essa chance para voltarmos. Funcionou! Ele voltou para mim e estamos até hoje felizes, mas PU não gostou disso e usou do fato de eu ter voltado com ele para falar que eu tinha inventado a história toda de traição e que eu era uma ladra de namorados. Todos na minha escola se voltaram contra mim. Naquele ano eu havia conhecido vários amigos, mas poucos deles continuaram meus amigos até hoje. Na formatura fui votada a Malhada da escola, mas dancei a valsa com meu namorado de cabeça erguida. Nas férias de janeiro fomos para a casa de praia dele. Lá eu estava olhando o Orkut de minha mãe, quando vi ela falando com minha prima psicologa sobre Asperger. Nesse dia eu conheci o Asperger.
Minha vida com Asperger:
Depois de ver aquela mensagem não tive mais paz. Mil coisas passavam em minha mente. "Asperger? O que é isso?! eu tenho isso? Não é possível! Será que é meu irmão que tem?!" Quanto mais eu lia, mas eu via meus traços naquelas descrições. "Falta de interação, comportamentos repetitivos... Sou eu! Meu Deus! Eu não acredito que eu tenho isso! Por que mamãe não me contou?" Busquei respostas na internet, mas não havia cura. Me senti suja, doente. Foi a pior sensação que já tinha sentido em minha vida. Parecia que meu mundo tinha desabado em cima da minha cabeça. Liguei para minha mãe já chorando, mas disfarçando a voz. "Mãe... Eu tenho Asperger?" Minha mãe levou um susto. "Quem mandou você olhar meu orkut? Quem te deu permissão?!" Eu persisti "Mãe! Eu tenho Asperger?!" Ela me respondeu nervosa "Não, é seu irmão!" Eu não entendia. Eu me identifiquei perfeitamente com a descrição. Não poderia ser meu irmão, não poderia ser outra pessoa. "Aquela descrição... Era eu... Era de mim que aqueles sites estavam falando!" Dito e feito. Assim que minhas férias acabaram fui a um psicologo Dr. AB. Ele conversou comigo e me explicou. Eu me senti uma doente. Passei por crises existênciais, insônia, me sentia sempre deprimida. Fiz testes com DR. AB, assim como meu irmão (ele também foi diagnosticado com SA). O meu nível deu bem mais alto que o do meu irmão. Por isso eu achava que só eu tinha. Hoje estou em fase de tratamento psicologico com Dr. AB. Eu e meu irmão. Apenas Mi, El, VC, meus pais e meu irmão sabem que tenho SA, mas todos os dias eles me ajudam a superar isso passo a passo e a ver que, apesar disso tudo, eu sou apenas uma garota normal com desejos de uma garota normal.

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